por Amanda Mello

O primeiro debate a presidente das eleições 2022 realizado pela Band na noite deste domingo (28) foi bastante tenso e repleto de troca de farpas, o que fez muita gente se questionar quem venceu o embate. Os ataques começaram antes mesmo do início do programa, com direito até mesmo a um pedido de mudança de lugar dos candidatos.

Poucas horas antes do início do debate, a campanha do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) teria pedido para que a emissora tirasse o ex-presidente Lula (PT) do seu lado. Segundo informação da Folha de São Paulo e do jornal O Globo, o pedido teria vindo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do presidente, para que a distância fosse mantida. No fim das contas, Lula trocou de lugar com Soraya Thronicke (União Brasil).

Participaram do debate também Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Felipe d’Ávila (NOVO).

Treta nos bastidores

Enquanto os candidatos lutavam para chamar a atenção do eleitorado e mostrar quem venceu, o debate na Band também teve confusão nos bastidores. O deputado federal André Janones (Avante) e o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, brigaram e trocaram ofensas e quase foram para vias de foto, trocando xingamentos e precisando ser contidos por seguranças. Enquanto isso, muitos gritos, berros e ofensas enquanto os presidenciáveis discursavam.

Primeiro bloco

O debate começou com uma pergunta sobre economia voltada para Felipe D’Ávila e Soraya Thronick. O candidato do Novo aproveitou a pergunta para se apresentar ao eleitorado e sobre a proposta do partido, citando inclusive o governador de Minar Gerais, Romeu Zema. Soraya Thronicke também adotou a mesma estratégia, mas apresentou a ideia de um único imposto federal que, segundo ela, é revolucionária.

O ponto alto foi o confronto direto entre Bolsonaro e Lula. O candidato à reeleição chamou o petista para falar de corrupção, citando os escândalos da Petrobras e relacionando os desvios com a falta de água no Nordeste — base eleitoral do petista. “Você quer voltar ao poder para quê? Para continuar fazendo a mesma coisa?”, disparou Bolsonaro.

Lula se defendeu da mesma maneira que se posicionou no Jornal Nacional, apontando as políticas do PT de combate à corrupção. No entanto, Bolsonaro citou ainda a delação de Antonio Palocci e completou “O seu governo foi o mais corrupto da história do Brasil”.

Em seguida, Ciro Gomes foi para cima de Bolsonaro para criticar sua entrevista no programa Pânico em que o presidente afirmou não existir fome no Brasil. “Cada um interpreta as informações do jeito que achar melhor”, respondeu Bolsonaro, citando que a inflação de dois dígitos do país é uma das menores do mundo.

Quem também chamou a atenção foi Simone Tebet, que não desperdiçou chances de atacar Bolsonaro em suas falas. Mesmo na pergunta para outros candidatos, como Soraya Thronicke, ela cutucou feridas como os escândalos no MEC e o aparelhamento da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Segundo bloco

Mas o primeiro bloco não definiu quem venceu o debate na Band. A troca de ataques seguiu já na primeira pergunta sobre Auxílio brasil e teto de gastos feita por jornalistas a Lula e Bolsonaro. O candidato à reeleição disse que vai manter os benefícios não roubando, como teria acontecido com o PT. Lula então apontou que Bolsonaro mentia sobre o PT ter sido contra o auxílio, já que os senadores do partido votaram favorável à propostas, ainda que contestassem o caráter eleitoral da medida.

Em seguida, na pergunta feita pela jornalista Vera Magalhães sobre cobertura vacinal, Bolsonaro deixou a resposta de lado e partiu para o ataque contra a profissional, chamando-a de mentirosa e dizer que ela “parece sonhar” com ela. A senadora Simone Tebet tentou intervir e também foi atacada por Bolsonaro. O presidente não respondeu à pergunta.

Lula e Ciro também trocaram farpas na pergunta sobre a relação entre os dois candidatos da esquerda. Lula disse ter muita admiração pelo pedetista e que espera que ele não vá para Paris dessa vez. O ex-ministro, porém, acusou o bolsonarismo de ser cria do PT e da crise deixada pelo governo de Dilma. “A razão do meu distanciamento é que o Lula se deixou corromper mesmo”.

Mais uma vez, Simone Tebet aproveitou suas respostas pata partir para o ataque contra Jair Bolsonaro, chamado o presidente de produtor de fake news e disse que seus ministros e parlamentares aliados tentaram intimidá-la na CPI da Covid. “Eu não tenho medo de você”, disparou em referência ao ataque feito à Vera Magalhães. Em seguida, Soraya Thronick disse que tem candidato que é “tchutchuca” contra mulheres e ainda citou a novela Pantanal ao dizer que, em seu estado, tem mulher que vira onça.

Terceiro Bloco

O terceiro bloco já começou com Simone Tebet partindo mais uma vez contra Bolsonaro, questionando por que ele é contra as mulheres, novamente se referindo aos ataques à jornalista Vera Magalhães. O presidente respondeu contestando a firmação e lembrou que a defesa família é sua pauta. “Chega de vitimismo, somos todos iguais. Quase todas as mulheres do Brasil me amam”, afirmou.

Bolsonaro tentou contornar a saia justa perguntando sobre o papel da mulher em uma pergunta sobre mulheres para Ciro Gomes e houve, mais uma vez, troca de acusações. O pedetista acusou o presidente de ser machista e recebeu, de retorno, uma fala de Ciro sobre sua ex-mulher. “Eu vim de uma cultura machista e aprendi. Você que não aprende nunca”, rebateu Ciro.

Lula perguntou a Simone Tebet sobre o sigilo de 100 anos de documentos do governo Bolsonaro, mas ela puxou o debate para a corrupção, fazendo ataques ao governo PT, trazendo o mensalão e o petrolão ao debate.

Quem venceu o debate na Band?

Com o término do debate, todo mundo está se perguntando quem venceu o debate na Band, principalmente com a temperatura elevada, trocas de acusações e o primeiro embate direto entre Lula e Bolsonaro. Contudo, o protagonismo não foi bem o que muitos eleitores esperavam.

Bolsonaro foi mesmo o grande alvo do debate, recebendo diversas críticas de praticamente todos os lados. Foi criticado por sua gestão da pandemia e, principalmente, por sua postura machista contra a jornalista Vera Magalhães. Aliás, o ataque à profissional foi avaliado como a grande falha do candidato à reeleição, que precisa crescer entre o eleitorado feminino. Por outro lado, ele investiu bastante contra Lula, sempre fazendo questão de associar o petista à corrupção e até chegou a chamá-lo de “presidiário” em determinado momento — o que deve aparecer em vários cortes que serão espalhados nas redes sociais para mostrar que foi Bolsonaro quem venceu o debate da Band, o que não foi bem verdade visto o quanto ele foi atacado.

O ex-presidente Lula foi bastante contido e não partiu tanto para o ataque. Ameaçou algumas investidas contra Bolsonaro, mas foi poucas vezes incisivo — o que faz sentido em sua estratégia de atrair novos eleitores ao mostrar-se mais moderado.

Quem realmente se destacou foi Simone Tebet, que aproveitou todos os momentos para atacar Bolsonaro e não perdoou nem mesmo Lula. Ela soube aproveitar a agressão a Vera Magalhães e encabeçou a pauta feminina ao longo de todo o debate, usando isso como forma de se opor ao governo Bolsonaro. Mas também partiu contra Lula citando casos de corrupção e erros do PT.