Estudo Revela Alto Teor Alcoólico em Pães de Forma de Marcas Populares
A Proteste revelou que algumas marcas de pão de forma possuem altos níveis de álcool, potencialmente prejudiciais, especialmente para grávidas e bebês. O estudo analisou dez marcas e destacou variações entre os lotes.
Um estudo divulgado em 10 de julho de 2024 pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, conhecida como Proteste, parte do grupo Euroconsumers, revelou que algumas marcas populares de pão de forma vendidas em supermercados contêm altos níveis de álcool. A organização considera esse teor prejudicial à saúde humana, especialmente para grávidas e bebês.
A pesquisa revelou ainda que, entre os dez produtos analisados, seis seriam classificados como alimentos alcoólicos caso houvesse uma legislação específica para essa categoria, semelhante à de bebidas. O álcool encontrado nesses pães resulta do processo de fermentação e do uso de conservantes.
Para obter esses resultados, a Proteste analisou o teor alcoólico de dez marcas de pão de forma, incluindo quatro da empresa Wickbold: Visconti, Bauducco, Wickbold 5 zeros, Wickbold sem glúten, Wickbold leve, Panco, Seven Boys, Wickbold, Plusvita e Pulmann.

A pesquisa concluiu que apenas os pães das quatro últimas marcas possuem teor de etanol abaixo de 0,5%, o limite para que uma bebida seja considerada alcoólica. Um dos lotes analisados da Visconti, por exemplo, apresentava teor de 3,37% e da Bauducco, 1,17% (em comparação, a cerveja Brahma chopp tem 4,8%).
Todas as marcas citadas pela Proteste afirmaram respeitar a legislação brasileira e submeter seus produtos a processos rigorosos de qualidade. As notas de cada uma estão disponíveis no final da reportagem.
A Proteste dividiu a análise em duas etapas: na primeira, foram avaliados quatro lotes do produto da Bauducco, um da Panco, um da Plusvita, um da Pullman, um da Seven Boys, três da Visconti, um da Wickbold zero, um da Wickbold leve e baixo em gorduras, um da Wickbold sem glúten e um da Wickbold.
Na segunda etapa, foram analisados três lotes da Bauducco, três da Visconti, um da Panco, três da Plusvita, um da Seven Boys, um da Wickbold 5 zeros, um da Wickbold leve e baixo em gorduras, um da Wickbold sem glúten, um da Wickbold e um da Pullman.
Em alguns casos, houve variações no teor alcoólico entre os lotes da mesma marca. Os pães da Bauducco analisados na segunda etapa, por exemplo, variaram de 1,17% a 0,66% – ainda que todos tenham registrado teor acima do permitido para uma bebida não ser classificada como alcoólica. O mesmo ocorreu com os pães Visconti, que variaram de 0,95% a 3,37%.
De acordo com a Proteste, essa variação ocorre devido ao processo de armazenamento e validade dos produtos. Para a tabela publicada abaixo, a Folha e a organização consideraram o maior valor registrado por marca.
“Recebemos várias vezes relatos de que alguns pães de forma cheiravam a álcool, o que é, no mínimo, estranho. Sabemos que a fermentação gera álcool, mas em níveis tão baixos que ele evapora quando o produto é assado. Também sabemos que o álcool é usado no antimofo aplicado ao produto pronto, mas, novamente, sua quantidade deveria ser tão pequena que desaparecesse antes do consumo”, afirma Henrique Lian, diretor-executivo da Proteste|Euroconsumers Brasil.
Além de verificar o teor alcoólico dos produtos, a Proteste avaliou a possibilidade de um motorista ser testado positivamente no bafômetro após consumir duas fatias desses pães. O resultado foi que pessoas que consumiram duas fatias dos lotes da Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros com maior teor alcoólico poderiam ser acusadas de embriaguez ao volante.
Para essa conclusão, a Proteste considerou a informação do Detran do Rio Grande do Sul de que qualquer motorista que apresentar resultado superior a 0,04 miligramas de álcool por litro de ar expelido no teste do bafômetro estará cometendo uma infração gravíssima ou crime de trânsito.
Neste caso, a organização considerou que 0,04mg/l equivale a 0,08 gramas de álcool por litro de sangue. Ou seja, uma pessoa com 5,5 litros de sangue no corpo precisaria ter 0,44 gramas de álcool no organismo para testar positivo no bafômetro. Assim, segundo as análises da Proteste, motoristas que comerem duas fatias de pães de forma de marcas com mais de 0,22 gramas de etanol por fatia poderão ser penalizados.
Esse valor pode variar se os pães forem aquecidos, pois o calor contribui para a evaporação do etanol.
“O bafômetro varia de acordo com o peso e as condições da pessoa. Mas, no pior cenário, podemos inferir que existe um risco ao consumir esses produtos”, afirma Rafael Moura, consultor técnico da Proteste|Euroconsumers Brasil.